
Teste de utilização demonstra que um comercial elétrico com bateria de 45 kWh consegue realizar percursos interurbanos longos com um único carregamento — mesmo com variações de altitude e uso parcial de autoestrada.
Análise Técnica da Viagem
Uma viagem de 300 km, realizada entre Vila Franca de Xira e Portimão, serviu para avaliar a autonomia real e o comportamento energético da Nissan Townstar EV curta, equipada com bateria útil de aproximadamente 45 kWh e motorização elétrica compatível com carregamento rápido até 80 kW (DC CCS).
A autonomia homologada (WLTP) situa-se nos 280 km, o que coloca o trajeto perto dos limites teóricos, sobretudo considerando desníveis, velocidades mais elevadas e carga adicional.
Planeamento e Rota
Previsto inicialmente um percurso integral por estrada nacional (N10 + IC1) para maximizar eficiência, o condutor acabou por integrar um troço de autoestrada (A13) devido ao potencial tráfego pesado entre Porto Alto e Grândola.
Esta decisão implicou:
- aumento da velocidade média,
- menor frequência de desacelerações com regeneração,
- maior resistência aerodinâmica (significativa em veículos comerciais).
Ainda assim, a Townstar manteve um comportamento eficiente até Ourique, ponto escolhido como paragem estratégica.
Consumos e Registos de Telemetria
Até Ourique, o veículo apresentou:
- Consumo médio: 16 kWh/100 km
- Velocidade média: 88 km/h
- Condições: carga para 2 passageiros + bagagem
O estado da estrada e a fluidez de tráfego permitiram manter ritmos estáveis, favorecendo a eficiência do motor elétrico.
Carregamento em Ourique: Desempenho e Custos
Chegada a Ourique com 45 km de autonomia remanescente, a opção recaiu sobre um carregador rápido da BP.
O cenário no local:
- Carregador DC 150 kW livre
- Carregador DC 50 kW ocupado
- Carregador AC indisponível para carga rápida útil
Apesar de a Townstar aceitar no máximo cerca de 80 kW, o carregamento num posto de 150 kW é comum e apenas limita a velocidade ao máximo suportado pelo veículo.
Sessão de Carregamento
- Tempo real de carga: 25 minutos
- Autonomia adicionada: aprox. 100 km
- Custo: 18 €
- Método: pagamento direto por cartão bancário
- Erro identificado: configuração incorreta no Miio (CHAdeMO em vez de CCS), levando a menos clareza inicial sobre disponibilidade.
Efeito da Topografia Algarvia na Autonomia
A subida da serra algarvia provocou um aumento momentâneo do consumo para 18 kWh/100 km, dentro do expectável para o perfil de elevação.
Na descida, registrou-se forte regeneração, permitindo recuperação de autonomia e estabilização do consumo final nos 16 kWh/100 km.
Chegada a Portimão:
- Autonomia restante: ~100 km
- A/C ligado
- Média energética final: 16 kWh/100 km
- Velocidade média global: ~90 km/h
A análise posterior mostra que, evitando o troço de autoestrada, o percurso teria sido exequível sem qualquer paragem de carregamento.
Comparação Económica e Operacional
Custos
- Carregamento doméstico: 6,6 €
- Carregamento rápido DC: 18 €
- Total: 24,6 €
Um veículo a gasóleo, com consumo médio de 6 l/100 km, teria gasto cerca de 30,6 € apenas em combustível — sem incluir portagens.
Tempo de Viagem
- Elétrico (com paragem): ~3h (2h de condução + 25 min de carga + pequenas pausas)
- Combustão (via AE): ~2h30
Conclusão
A viagem demonstra que a Nissan Townstar EV, apesar da capacidade relativamente modesta da bateria (45 kWh), é totalmente capaz de cumprir deslocações interurbanas longas, sobretudo quando o percurso é planeado para favorecer a eficiência energética.
Principais conclusões:
- A Townstar revelou eficiência superior ao esperado para um veículo comercial.
- Com planeamento adequado, o trajeto poderia ter sido realizado sem carregamentos intermédios.
- A regeneração em zonas de descida teve impacto positivo na autonomia final.
- O custo total da viagem foi inferior ao de um equivalente diesel.
- A utilização de carregadores de alta potência exige maior atenção ao custo por kWh, dada a limitação de carregamento do próprio veículo.
A análise real reforça que os comerciais elétricos começam a apresentar viabilidade prática e económica mesmo para viagens longas, sobretudo para profissionais que realizem deslocações regulares entre regiões.
